Sunday, March 29, 2009
"ESCRITO CON TINTA VERDE
La tinta verde crea jardines, selvas, prados,
follages donden cantan las letras,
palabras que son árboles,
frases que son verdes constelaciones.
Deja que mis palabras, oh blanca, desciendan y te cubran
como una lluvia de hojas a un campo de nieve,
como la yedra a la estatua,
como la tinta a esta página.
Brazos, cintura, cuello, senos,
la frente pura como el mar,
la nuca de bosque en otoño,
los dientes que muerden una brizna de yerba.
Tu cuerpo se constela de signos verdes
como el cuerpo del árbol de renuevos.
No te importe tanta pequeña cicatriz luminosa:
mira al cielo y su verde tatuaje de estrellas."
Octavio Paz in "Poesias de amor hispanoamericanas"
de Mario Benedetti, 1969, Instituto del Libro, La Habana, Cuba
La tinta verde crea jardines, selvas, prados,
follages donden cantan las letras,
palabras que son árboles,
frases que son verdes constelaciones.
Deja que mis palabras, oh blanca, desciendan y te cubran
como una lluvia de hojas a un campo de nieve,
como la yedra a la estatua,
como la tinta a esta página.
Brazos, cintura, cuello, senos,
la frente pura como el mar,
la nuca de bosque en otoño,
los dientes que muerden una brizna de yerba.
Tu cuerpo se constela de signos verdes
como el cuerpo del árbol de renuevos.
No te importe tanta pequeña cicatriz luminosa:
mira al cielo y su verde tatuaje de estrellas."
Octavio Paz in "Poesias de amor hispanoamericanas"
de Mario Benedetti, 1969, Instituto del Libro, La Habana, Cuba
Sunday, March 15, 2009
FENDA 1979-2009
Para o Vasco Santos, com amizade e admiração pelo Homem e pelo Editor!
"Toda a arte me parece ser apenas arte para o presente se não for contra o presente. Se mata o tempo- não o mata! O verdadeiro inimigo do nosso tempo é a linguagem. Ela vive em entendimento directo com o espírito que o tempo faz revoltar-se.
É aqui que pode gerar-se a conspiração que a arte é. A condescendência que rouba as palavras à linguagem goza do favor do tempo. A arte só pode nascer da recusa. Só do grito, não da aquietação. A arte, chamada como conforto, abandona como uma maldição o quarto onde a humanidade agoniza. Faz da desesperança o caminho para a realização plena."
KARL KRAUS
"não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos, desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo no peito os que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara,
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana. úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos. a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos por ti."
HANS MAGNUS ENZENSBERGER, traduzido por JORGE DE SENA
Textos retirados do "ALMANAQUE FENDA", Primavera de 1999
Para o Vasco Santos, com amizade e admiração pelo Homem e pelo Editor!
"Toda a arte me parece ser apenas arte para o presente se não for contra o presente. Se mata o tempo- não o mata! O verdadeiro inimigo do nosso tempo é a linguagem. Ela vive em entendimento directo com o espírito que o tempo faz revoltar-se.
É aqui que pode gerar-se a conspiração que a arte é. A condescendência que rouba as palavras à linguagem goza do favor do tempo. A arte só pode nascer da recusa. Só do grito, não da aquietação. A arte, chamada como conforto, abandona como uma maldição o quarto onde a humanidade agoniza. Faz da desesperança o caminho para a realização plena."
KARL KRAUS
"não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos, desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo no peito os que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara,
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana. úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos. a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos por ti."
HANS MAGNUS ENZENSBERGER, traduzido por JORGE DE SENA
Textos retirados do "ALMANAQUE FENDA", Primavera de 1999
Friday, March 06, 2009
" Uma vez vieram junto de mim e disseram:
tens de começar.
Às vezes não vinham e escreviam bilhetes,
dizendo, tem calma, alegra-te, parte, regressa
e outras coisas assim.
Eu duvidava de tudo isto e saía, dizendo:- vou
beber cerveja, já volto.
Quando voltava era tarde, eles já não estavam
e eu podia, por fim, aproximar-me um pouco
mais de mim mesmo.
Pensava:- para que serve tudo isto?
Um dia ela veio e eu disse-lhe:- chegaste.
Trazia uma voz essencial, um nome e uma idade
e disse-me:- sim, cheguei.
-Vamos amar tudo isto. Apetece-te café?
E fiz café, enquanto perguntava:- onde andaste
todo este tempo? Que fizeste? Em que pensaste?
E ela espelhava-se em todas as direcções, invadia
todo o quarto, o pequeno armário do fundo, os
livros e os papéis.
E eu disse-lhe:- expandiste-te muito.
Às vezes deambulávamos pela neve que invadira
toda a cidade.
É uma cidade lenta, esta- dizia-me.
- Achas que podemos salvar tudo isto, tornar
possível estas palavras, estes gestos? Perguntei-lhe.
E ela disse:- não sei, não tenho a certeza.
Há uma falta de certeza terrível neste mundo- pensei."
Mário-Rui N. Cordeiro, CENTRAL PARK, livro inédito
tens de começar.
Às vezes não vinham e escreviam bilhetes,
dizendo, tem calma, alegra-te, parte, regressa
e outras coisas assim.
Eu duvidava de tudo isto e saía, dizendo:- vou
beber cerveja, já volto.
Quando voltava era tarde, eles já não estavam
e eu podia, por fim, aproximar-me um pouco
mais de mim mesmo.
Pensava:- para que serve tudo isto?
Um dia ela veio e eu disse-lhe:- chegaste.
Trazia uma voz essencial, um nome e uma idade
e disse-me:- sim, cheguei.
-Vamos amar tudo isto. Apetece-te café?
E fiz café, enquanto perguntava:- onde andaste
todo este tempo? Que fizeste? Em que pensaste?
E ela espelhava-se em todas as direcções, invadia
todo o quarto, o pequeno armário do fundo, os
livros e os papéis.
E eu disse-lhe:- expandiste-te muito.
Às vezes deambulávamos pela neve que invadira
toda a cidade.
É uma cidade lenta, esta- dizia-me.
- Achas que podemos salvar tudo isto, tornar
possível estas palavras, estes gestos? Perguntei-lhe.
E ela disse:- não sei, não tenho a certeza.
Há uma falta de certeza terrível neste mundo- pensei."
Mário-Rui N. Cordeiro, CENTRAL PARK, livro inédito