Friday, March 06, 2009

 
" Uma vez vieram junto de mim e disseram:
tens de começar.
Às vezes não vinham e escreviam bilhetes,
dizendo, tem calma, alegra-te, parte, regressa
e outras coisas assim.
Eu duvidava de tudo isto e saía, dizendo:- vou
beber cerveja, já volto.
Quando voltava era tarde, eles já não estavam
e eu podia, por fim, aproximar-me um pouco
mais de mim mesmo.
Pensava:- para que serve tudo isto?
Um dia ela veio e eu disse-lhe:- chegaste.
Trazia uma voz essencial, um nome e uma idade
e disse-me:- sim, cheguei.
-Vamos amar tudo isto. Apetece-te café?
E fiz café, enquanto perguntava:- onde andaste
todo este tempo? Que fizeste? Em que pensaste?
E ela espelhava-se em todas as direcções, invadia
todo o quarto, o pequeno armário do fundo, os
livros e os papéis.
E eu disse-lhe:- expandiste-te muito.
Às vezes deambulávamos pela neve que invadira
toda a cidade.
É uma cidade lenta, esta- dizia-me.
- Achas que podemos salvar tudo isto, tornar
possível estas palavras, estes gestos? Perguntei-lhe.
E ela disse:- não sei, não tenho a certeza.
Há uma falta de certeza terrível neste mundo- pensei."

Mário-Rui N. Cordeiro, CENTRAL PARK, livro inédito


Comments:
Olà Zé, acho estes textos lindos, muito parecidos com a ritmica dos teus; Quando os leremos?
nao foste ver a apresentaçao do livro " As cartas de amor de Pedro e Inez " no blog " a dispersa palavra"?
do victor de Oliveira Mateus, optimo poeta e ele jà me deu a conhecer muitos outros. Tens que là ir!!
Bom domingo,
bjos com chuva e frio, nunca masi acaba este inverno!
LM
 
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