Wednesday, October 31, 2007
"O drama está acabado. Em tal caso que
razão leva este homem a avançar para
a cena?
-Porque sou um sobrevivente do naufrágio."
Herman Melville, Moby Dick
BOM FERIADO
razão leva este homem a avançar para
a cena?
-Porque sou um sobrevivente do naufrágio."
Herman Melville, Moby Dick
BOM FERIADO
Friday, October 26, 2007
" UMA GOTA DE ÁGUA
Queria um poema pequeno
e que dissesse tudo o que sinto
em mim profundamente.
Um poema leve, sem lágrimas
nem tragédia, límpido como
as manhãs que vivi outrora,
sereno como um largo voo
que se imaginasse apenas.
Um poema assim como uma gota de água. "
Vasco de Araújo Ogando, in "Eros" (revista literária),
Fevereiro de 1955.
Queria um poema pequeno
e que dissesse tudo o que sinto
em mim profundamente.
Um poema leve, sem lágrimas
nem tragédia, límpido como
as manhãs que vivi outrora,
sereno como um largo voo
que se imaginasse apenas.
Um poema assim como uma gota de água. "
Vasco de Araújo Ogando, in "Eros" (revista literária),
Fevereiro de 1955.
Friday, October 19, 2007
PARA AS/OS MINHAS/MEUS AMIGAS/OS!
Fascínio é talvez a única palavra certa
aqui neste lugar de mistério e encantamento
palavras faltam para que todas as coisas
ocupem o seu espaço e nada mais que
perguntas precisam de ser feitas se tudo
está tão certo e as horas perderam o seu
significado que dizer deste insecto atraído
pela luz ou deste sol outonal a saudar os
nossos dias efémeros sobre esta terra de
espanto que ternos olhos poderão olhar
o indizível se a única certeza que nos conduz
é ainda este modo de estar silencioso e tenso
à espera do inenarrável. Planeta azul, eu te
saúdo deste lugar de espanto e fascínio
encontrarei o caminho mesmo se é certo e
sabido que uma jovem sereia se perdeu no
mar e foi saudada por Iemanjá...
(J.A.R.)
Fascínio é talvez a única palavra certa
aqui neste lugar de mistério e encantamento
palavras faltam para que todas as coisas
ocupem o seu espaço e nada mais que
perguntas precisam de ser feitas se tudo
está tão certo e as horas perderam o seu
significado que dizer deste insecto atraído
pela luz ou deste sol outonal a saudar os
nossos dias efémeros sobre esta terra de
espanto que ternos olhos poderão olhar
o indizível se a única certeza que nos conduz
é ainda este modo de estar silencioso e tenso
à espera do inenarrável. Planeta azul, eu te
saúdo deste lugar de espanto e fascínio
encontrarei o caminho mesmo se é certo e
sabido que uma jovem sereia se perdeu no
mar e foi saudada por Iemanjá...
(J.A.R.)
Wednesday, October 03, 2007
À MEMÓRIA DE MEU PAI JOSÉ RIBEIRO
Herdei o teu nome. Hoje fazias anos. 103!...
Partiste sem me avisar há 40 anos e uns
dias. Tinha estado contigo na véspera a
perguntar-te porque andavas sempre
carregado que nem um burro a caminho
de Lisboa. Estás na adega na véspera da
tua morte a acondicionar as uvas com
aquelas folhas da videira, algumas nuns
tons de cor que ficaram gravados para
sempre em mim, acondicionavas as uvas
para a tua viagem de comboio, as viagens
de borla também pagavam o teu trabalho
escravo na CP e eu perguntei-te porquê tanto
trabalho e tu respondeste: então filho
não temos de ser uns para os outros? E
eu jurei a mim mesmo nunca mais te
fazer essas perguntas. E não será hoje
que quebro essa promessa.
Partiste 15 dias antes do Miguel nascer.
Miguel José em tua memória também.
Já conhecias a tua neta Sofia. Ana Sofia.
Tinha pouco mais de um ano e recordo
tantas vezes a alegria com que te debruçavas
sobre o seu berço. Vinhas de comboio, claro!
Hoje o António, o irmão mais velho, deixou-me
uma mensagem no telemóvel, nem imaginas
como tudo isto está mudado, e dizia:
"Hoje faz 103 anos o pai. Como é pobre e está
no desemprego mandou-me sardinhas, broa,
vinho e bolo para o almoço (...)." Depois
fala-me de coisas que nos doem por dentro.
Tantas vezes penso em ti, tanta falta me
fizeste ao longo destes anos todos. Tinha
muitas coisas para te contar. Vejo-te tantas
vezes no campo, na horta, na vinha, nas
oliveiras, nos pinhais. Estou contigo na lagar de azeite
que ficava mesmo em frente da nossa casa.
Aquele era um local onde gostava de estar
contigo. A minha alegria quando te levava
a comida ao campo...É noite agora, estarias
já a dormir, antes levei-te o teu bagaço
"é para a sossega, filho". Boa noite, pai!
Herdei o teu nome. Hoje fazias anos. 103!...
Partiste sem me avisar há 40 anos e uns
dias. Tinha estado contigo na véspera a
perguntar-te porque andavas sempre
carregado que nem um burro a caminho
de Lisboa. Estás na adega na véspera da
tua morte a acondicionar as uvas com
aquelas folhas da videira, algumas nuns
tons de cor que ficaram gravados para
sempre em mim, acondicionavas as uvas
para a tua viagem de comboio, as viagens
de borla também pagavam o teu trabalho
escravo na CP e eu perguntei-te porquê tanto
trabalho e tu respondeste: então filho
não temos de ser uns para os outros? E
eu jurei a mim mesmo nunca mais te
fazer essas perguntas. E não será hoje
que quebro essa promessa.
Partiste 15 dias antes do Miguel nascer.
Miguel José em tua memória também.
Já conhecias a tua neta Sofia. Ana Sofia.
Tinha pouco mais de um ano e recordo
tantas vezes a alegria com que te debruçavas
sobre o seu berço. Vinhas de comboio, claro!
Hoje o António, o irmão mais velho, deixou-me
uma mensagem no telemóvel, nem imaginas
como tudo isto está mudado, e dizia:
"Hoje faz 103 anos o pai. Como é pobre e está
no desemprego mandou-me sardinhas, broa,
vinho e bolo para o almoço (...)." Depois
fala-me de coisas que nos doem por dentro.
Tantas vezes penso em ti, tanta falta me
fizeste ao longo destes anos todos. Tinha
muitas coisas para te contar. Vejo-te tantas
vezes no campo, na horta, na vinha, nas
oliveiras, nos pinhais. Estou contigo na lagar de azeite
que ficava mesmo em frente da nossa casa.
Aquele era um local onde gostava de estar
contigo. A minha alegria quando te levava
a comida ao campo...É noite agora, estarias
já a dormir, antes levei-te o teu bagaço
"é para a sossega, filho". Boa noite, pai!
