Saturday, February 28, 2009

 
" Trata-se de um pequeno território dum mundo
que certamente não existe.
A força é uma catedral entre laranjais.
Escrevam sobre isto, dizem. E nós escrevemos
para disfarçar uma impossibilidade.
Depois chegam as coisas que andam connosco
pelos caminhos e os que são tristes sorriem e os
alegres choram. Assim se cumpre a nossa inclinação
para o que é magnífico.
Somos frios, às vezes somos também os que sabem
os nomes mais serenos: água, fogo, ternura.
Esta noite podia ser um século de força na nossa
vida. Será numa noite destas que acenderemos os
archotes aos amigos que partem.
Vão sós.
É assim o silêncio.
Então aprendemos a dar importância à nossa primeira
descoberta e o mundo inteiro estabelecerá que se deve
falar disto ou daquilo.
E numa noite destas procuraremos pelas ruas a palavra
porque partimos e chegamos e os nossos braços buscarão
a distância.
Falar-se-á dela sempre que se necessitar de um objecto
batido pela luz.
Uns dirão: é o sol e o mar. São algas e bichos.
Outros: é um nome.
Será uma coisa destas- digo eu e paro de escrever, porque
escrever pesa-me imenso."

Mário-Rui N. Cordeiro, in CENTRAL PARK, livro inédito.


Comments:
O ZR,
os textos não são seus?
Não se tratará de um seu pseudónimo?
Não sei bem... mas algo me diz que sim...
abr
zl
 
Definitivamente estes poemas não são de nenhum pseudónimo de ninguém. São de um Grande Poeta Português, quiçá ao nível do Grande Herberto Helder, que vive em Abrantes e nasceu em Santa Margarida da Coutada. Tem um único livro publicado: "A Nau Eléctrica" (Ulmeiro, Abril de 1984, com prefácio de Miguel Serras Pereira). Vale a pena ler, é fabuloso.
Transcrevo aqui um pequeno trecho de um grande poema do Mário, chamado: As Personagens dos Primeiros Séculos.

"Um poeta não devia falar,
para que assim pudesse ocupar menos lugar nos autocarros
das estradas generosas
que nos levam pela vida fora.
Ele devia ter uma rua só para si,
numa cidade onde mais ninguém habitasse,
para que enfim pudesse existir verdadeiramente só
na sua infância."

Dizer mais o quê?

Cardoso, o Serrano
 
Caro António Cardoso,

Estamos de acordo. O Mário-Rui é definitivamente um Grande Poeta. Farei o que puder para o publicar. Estes textos aqui são o meu compromisso com essa edição que o Mário-Rui bem merece.

Um abraço!
 
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