Tuesday, July 08, 2008

 
"O TEMPO E O MAR


Era um homem, a sombra de um homem e
caminhava para o mar.
Estas pegadas
são o obscuro rumor do tempo
e o tempo é uma vara oblíqua nas mãos de deus.
Que fará um homem com as dores do mundo,
com a última gota dos cálices ao lado da morte?
Reconstruir o rosto da amada,
dar vida à sua silenciosa vida?
Matar,
no súbito ardil do outono, os vestígios de uma
palavra secreta?
Há uma cidade profunda onde em profunda água
ela o esquece.
Quem para o mar caminha
leva consigo a maldição das ilhas como um
lírio quebrado, uma ânfora de pólen,
um adeus."

In José Agostinho Baptista, PAIXÃO E CINZAS,
1992, Lisboa, Assírio & Alvim

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