Saturday, September 15, 2007

 
Solitário e vagabundo de mil sóis escrevo como quem ama.
Como quem tem toda a pressa do mundo e todo o vagar da
morte. Escrevo só. Vagueio neste infinito espaço à espera
da lua cheia e de uma brisa marítima. Estou só, pois. A
minha memória é a única coisa que me prende às pessoas,
às coisas.Memória excessiva, memória ténue, pequenino
fio, que voga neste tempo que me cabe viver. Como escrever
toda a angústia do universo se a dor maior de todas é saber-me
acompanhado e, no entanto, sempre à espera do inenarrável.
Um homem e uma mulher são portadores de toda a história
do mundo. Que acasos comandam a nossa vida? Escrevo a
solidão infinita deste acaso que me move em busca de tudo
e de coisa nenhuma.
Em boa verdade nada espero e tudo desejo, o meu pensamento
voga no éter, quase nada já sei de mim. Escrevo pois como
quem ama, infinitamente só, infinitamente acompanhado.
Memória das águas do meu mar, memória de todos os gestos
inventados, memória da maior ternura consumida sob os
astros, memória de mim, memória de uma mulher encontrada
à esquina do tempo, memória da minha infinda solidão neste
dia em que escrevo todas as coisas da vida e o sem sentido de
quase tudo isto que me rodeia.
Solitário e vagabundo de mil sóis, de mil sexos, busco a perfeição
das coisas imperfeitas, sabendo que esta dor não tem remédio
e que nada nem ninguém me vergará ao peso da infâmia destes
dias de ódio e sofrimento.

(J.A.R.)

Comments:
" Que acasos comandam a nossa vida"?
Escrever é sempre um acto de grande solidão;sobretudo, quando a poesia acontece como neste pequeno grande texto.
Abraço,
 
Escrita vagabunda ... soa-me a escrita com alma e essa é solitária por necessidade.
Um abraço Zé, bom resto de Domingo.
 
"A erva como um silêncio.A erva atravesada pelos insectos teimosos na felicidade."
" A minha amizade està sobre ti e tu nao estàs debaixo da minha amizade.
Nao sou eu o despojado:a tua beleza é tenaz,mas o meu cansaço é mais profundo que a tua beleza ", A. Gamoneda
Obrigada Zé pelo teu belo poema solitàrio e vagabundo de mil sois.
é lindo, que bom ler-te.
Boa noite, beijos
LM
Nao choveu esteve calor e sol,
Paris teve um dia de verao!!!!
A esperança é sempre a ultima a morrer!
 
"Se eu não morresse nunca e eternamente procurasse e conseguisse a perfeição das coisas"

Cesário Verde

Abraço,
Manuel
 
Zézinho, vez, esteve frio e chuvinha...amigos,é um reconforto ter-vos , linda a frase do Cesàrio Verde, merci manuel,
merci à tous,
beijihos
lidia LM,
paris
 
Só é possível escrever estas palavras porque amas e és amado. Escreves com alma, escreves vida, escreves aquilo que ela contém de melhor.
Belo post! Acto de solidão misturado com muito amor.

Beijinhos
 
O texto ... o texto não está maior? Não me lembro de o ter lido assim ... está?
 
Manuel, Alex, Lídia, outra vez Manuel, outra vez Lídia, Sophiamar, outra vez Alex! OBRIGADO!
O texto é o mesmo, Alex!...
Sophiamar, a biografia do poeta não tem muita importância...não acham?
 
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