Friday, April 20, 2007
Um ligeiro torpor levou o Engº. Ferreira de Magalhães a
meditar sobre as sábias virtudes do álcool. Bendito, mil
vezes bendito o fruto dea videira, assim pensava quando
não conseguia atinar com os grandes mistérios do amor
cortês. Disse apenas, não há-de ser nada, recordou alguns
dos seus grandes momentos de glória, o monumento à
pulhice erguido em substituição do velho cruzeiro, o
último dos barcos da sua infância que se fez ao mar apesar
da tempestade, fitou a lareira e quedou-se mais silencioso
que um búzio. Foi necessário arrancá-lo ao seu mundo
mágico e dizer-lhe: mas isto é lá viver!...
As ramadas verdes foram fortemente batidas pelo vento,
o espírito que as anima dá mostras de grande vivacidade,
mas que culpa tem um homem do horror destes dias e
destas noites? Quem se lembrará de nós para além deste
sórdido tempo de pequenas misérias e horrores? Qual a
origem do massacre? Porque vilipendiamos as horas atrás
do mais perecível dos insectos? Quem descobrirá o segredo
que a luz deste minúsculo pirilampo transporta? A lua
cheia aí está no horizonte. As palavras enchem o espaço
vazio. Os personagens irrompem sem contornos definidos.
De quem a culpa, se culpa existe?
O Engº. Ferreira de Magalhães puxava ao sentimento. Onde
já se ouviu semelhante proposta nos tempos que correm,
os rios mantêm a água em níveis muito baixos e a floresta
obedece ao seu devir. O Engº. Ferreira de Magalhães está
muito preocupado com o dever. Repete sempre esta
asserção: o dever acima de tudo. Devemos sempre tudo.
Devendo sempre algo a nós próprios, ao frio inclemente,
a um fósforo para um fogo devorador, às entranhas, aos
interstícios mais fundos do fundo, que fique bem claro:
o dever acima de tudo. Quem não deve não teme. Quem
teme, não pode dever. Quem não tiver deveres a cumprir,
cumpra-se tal qual o destino da coruja no inverno
inclemente. É noite, um susto medonho inunda o cérebro
do Engº. Ferreira de Magalhães, lembra-se do mato, um
gatilho aperrado, o medo, o terrível medo, o escuro da
noite, o medo da morte, as minas, o som das balas, o
silvar das balas, os mortos aos pés, os pés que saltaram
pelos ares sobre o chão inimigo, uma mina, o caralho
das minas, a merda das guerras, a puta que os pariu a
todos, seus cabrões de merda, façam amor que isso
passa-lhes, seus fodas de meia leca, seus sebados, acabem
com este pesadelo, pronto acabou o pesadelo, acorde
ó Engenheiro, esqueça-se das coisas tristes, quem lhe
disse que nós existimos? É tudo mentira, ouviu?
(J.A.R.)
meditar sobre as sábias virtudes do álcool. Bendito, mil
vezes bendito o fruto dea videira, assim pensava quando
não conseguia atinar com os grandes mistérios do amor
cortês. Disse apenas, não há-de ser nada, recordou alguns
dos seus grandes momentos de glória, o monumento à
pulhice erguido em substituição do velho cruzeiro, o
último dos barcos da sua infância que se fez ao mar apesar
da tempestade, fitou a lareira e quedou-se mais silencioso
que um búzio. Foi necessário arrancá-lo ao seu mundo
mágico e dizer-lhe: mas isto é lá viver!...
As ramadas verdes foram fortemente batidas pelo vento,
o espírito que as anima dá mostras de grande vivacidade,
mas que culpa tem um homem do horror destes dias e
destas noites? Quem se lembrará de nós para além deste
sórdido tempo de pequenas misérias e horrores? Qual a
origem do massacre? Porque vilipendiamos as horas atrás
do mais perecível dos insectos? Quem descobrirá o segredo
que a luz deste minúsculo pirilampo transporta? A lua
cheia aí está no horizonte. As palavras enchem o espaço
vazio. Os personagens irrompem sem contornos definidos.
De quem a culpa, se culpa existe?
O Engº. Ferreira de Magalhães puxava ao sentimento. Onde
já se ouviu semelhante proposta nos tempos que correm,
os rios mantêm a água em níveis muito baixos e a floresta
obedece ao seu devir. O Engº. Ferreira de Magalhães está
muito preocupado com o dever. Repete sempre esta
asserção: o dever acima de tudo. Devemos sempre tudo.
Devendo sempre algo a nós próprios, ao frio inclemente,
a um fósforo para um fogo devorador, às entranhas, aos
interstícios mais fundos do fundo, que fique bem claro:
o dever acima de tudo. Quem não deve não teme. Quem
teme, não pode dever. Quem não tiver deveres a cumprir,
cumpra-se tal qual o destino da coruja no inverno
inclemente. É noite, um susto medonho inunda o cérebro
do Engº. Ferreira de Magalhães, lembra-se do mato, um
gatilho aperrado, o medo, o terrível medo, o escuro da
noite, o medo da morte, as minas, o som das balas, o
silvar das balas, os mortos aos pés, os pés que saltaram
pelos ares sobre o chão inimigo, uma mina, o caralho
das minas, a merda das guerras, a puta que os pariu a
todos, seus cabrões de merda, façam amor que isso
passa-lhes, seus fodas de meia leca, seus sebados, acabem
com este pesadelo, pronto acabou o pesadelo, acorde
ó Engenheiro, esqueça-se das coisas tristes, quem lhe
disse que nós existimos? É tudo mentira, ouviu?
(J.A.R.)
Comments:
<< Home
Olá!
Estou a tentar responder-lhe ao mail, mas não consigo, volta sempre para trás e diz que a sua conta foi desactivada!
?
será que tem a caixa do correio cheia?
Estou a tentar responder-lhe ao mail, mas não consigo, volta sempre para trás e diz que a sua conta foi desactivada!
?
será que tem a caixa do correio cheia?
Ainda bem que voltaste. Sinto-me menos só. No blog da Papu tenho azar: o computador fica esquisito e tem de reiniciar; o Daniel suprimiu-me da lista.
Começo a sentir-me como o eng.º Magalhães.
Um abraço, Zé.
Começo a sentir-me como o eng.º Magalhães.
Um abraço, Zé.
Soberbos, os seus textos!
(Eu acho!)
Têm uma substância que dói. Uma forma que empolga...
Um abraço, velho, vigilante e sofrido Amigo
do zl
PS: há palavras que pesam muito... Mas há alturas em que pesam demais...
Porra!... (estalido de dedos...)
zl
(Eu acho!)
Têm uma substância que dói. Uma forma que empolga...
Um abraço, velho, vigilante e sofrido Amigo
do zl
PS: há palavras que pesam muito... Mas há alturas em que pesam demais...
Porra!... (estalido de dedos...)
zl
Papu,
Obrigado! Com a ajuda do Manuel creio que já consegui o gmail! Mais logo darei notícias.
Um abraço e boa semana!
Obrigado! Com a ajuda do Manuel creio que já consegui o gmail! Mais logo darei notícias.
Um abraço e boa semana!
Caro Manuel,
O Engº. Magalhães existirá?! No livro não se sabe como e onde tirou o curso. Depois existe aquela coisa da Ordem...e já sabes que tudo o que me cheira a Ordem...não mei cheira bem!
Bem, bem...a nossa presença nesta coisa da blogosfera é para levar na desportiva. É assim que deve ser?!
Por mim só tenho dúvidas...E estou um pouco cansado! Só um pouco!...
Um grande abraço e... ver-nos-emos por aí um dia destes!
O Engº. Magalhães existirá?! No livro não se sabe como e onde tirou o curso. Depois existe aquela coisa da Ordem...e já sabes que tudo o que me cheira a Ordem...não mei cheira bem!
Bem, bem...a nossa presença nesta coisa da blogosfera é para levar na desportiva. É assim que deve ser?!
Por mim só tenho dúvidas...E estou um pouco cansado! Só um pouco!...
Um grande abraço e... ver-nos-emos por aí um dia destes!
Caro Zé Luís,
A generosidade dos amigos é para agradecer! Sei que dei o melhor de mim nestes textos...nem sequer sei se tenho coragem de reincidir! Há um certo cansaço a tomar conta dos meus dias, embora eu sinta que deveria tentar.Ainda por cima tenho o desafio do António Lobo Antunes quase permanente de há dois ou três anos para cá.Espero bem poder romper este cerco em breve!
Um grande abraço e até sempre!
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A generosidade dos amigos é para agradecer! Sei que dei o melhor de mim nestes textos...nem sequer sei se tenho coragem de reincidir! Há um certo cansaço a tomar conta dos meus dias, embora eu sinta que deveria tentar.Ainda por cima tenho o desafio do António Lobo Antunes quase permanente de há dois ou três anos para cá.Espero bem poder romper este cerco em breve!
Um grande abraço e até sempre!
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