Thursday, March 08, 2007
" O POBRE B.B.
1
Eu, Bertolt Brecht, venho lá das negras florestas.
Minha mãe, quando inda andava no seu ventre,
Levou-me para as cidades. E o frio das florestas
Estará dentro de mim 'té que na morte eu entre.
2
Na cidade de asfalto é que eu vivo co'a sorte.
Desde início provido dos sacramentos de morte:
De jornais. E tabaco. E água-ardente.
Desconfiado e preguiçoso e, no fim , contente.
3
Sou amável pra as pessoas. Ponho um chapéu de coco
Na cabeça porque é costume andar assim.
Digo cá: São uns animais de cheiro estranho,
E digo: Não faz mal; o cheiro também me toca a mim.
4
Nas minhas cadeiras vazias antes do meio-dia
Ponho de vez em quando mulheres a baloiçar;
Contemplo-as descuidado e lá lhes vou dizendo:
Em mim tendes alguém com quem não podeis contar.
5
À noitinha reúno à minha volta homens,
Rodas de "Gentleman" uns aos outros vamos dando.
Põem-me sem cerimónia os pés nas mesas
E dizem: Vamos melhorar. E eu não pergunto: Quando?
6
Pela manhãzinha, ao dealbar cinzento, mijam os abetos
E os pássaros, seus vermes, desatam a gritar.
A essa hora bebo o meu copo na cidade,
Deito fora a pirisca e não em paz me vou deitar.
7
Geração leviana, vamos vivendo em casas
Que foram consideradas um dia indestrutíveis
(Assim nós construimos os caixotes da Ilha de Manhattan
E as antenas que divertem o Atlântico, tão sensíveis).
8
Destas cidades ficará o que as atravessou: o vento!
A casa alegra o comedor que em seguida a esvazia.
Sabemos bem que somos passageiros,
E o que depois virá não é coisa de valia.
9
O meu virgínia não se apagará-assim o espero-
Só de amargura nos terramotos que lá vêm,
Eu, Bertolt Brecht, que das negras florestas fui jogado
Às cidades de asfalto há tempos no ventre de minha mãe. "
In Bertolt Brecht, POEMAS E CANÇÕES, Selecção e versão
potuguesa de Paulo Quintela, 1975, Livraria Almedina
1
Eu, Bertolt Brecht, venho lá das negras florestas.
Minha mãe, quando inda andava no seu ventre,
Levou-me para as cidades. E o frio das florestas
Estará dentro de mim 'té que na morte eu entre.
2
Na cidade de asfalto é que eu vivo co'a sorte.
Desde início provido dos sacramentos de morte:
De jornais. E tabaco. E água-ardente.
Desconfiado e preguiçoso e, no fim , contente.
3
Sou amável pra as pessoas. Ponho um chapéu de coco
Na cabeça porque é costume andar assim.
Digo cá: São uns animais de cheiro estranho,
E digo: Não faz mal; o cheiro também me toca a mim.
4
Nas minhas cadeiras vazias antes do meio-dia
Ponho de vez em quando mulheres a baloiçar;
Contemplo-as descuidado e lá lhes vou dizendo:
Em mim tendes alguém com quem não podeis contar.
5
À noitinha reúno à minha volta homens,
Rodas de "Gentleman" uns aos outros vamos dando.
Põem-me sem cerimónia os pés nas mesas
E dizem: Vamos melhorar. E eu não pergunto: Quando?
6
Pela manhãzinha, ao dealbar cinzento, mijam os abetos
E os pássaros, seus vermes, desatam a gritar.
A essa hora bebo o meu copo na cidade,
Deito fora a pirisca e não em paz me vou deitar.
7
Geração leviana, vamos vivendo em casas
Que foram consideradas um dia indestrutíveis
(Assim nós construimos os caixotes da Ilha de Manhattan
E as antenas que divertem o Atlântico, tão sensíveis).
8
Destas cidades ficará o que as atravessou: o vento!
A casa alegra o comedor que em seguida a esvazia.
Sabemos bem que somos passageiros,
E o que depois virá não é coisa de valia.
9
O meu virgínia não se apagará-assim o espero-
Só de amargura nos terramotos que lá vêm,
Eu, Bertolt Brecht, que das negras florestas fui jogado
Às cidades de asfalto há tempos no ventre de minha mãe. "
In Bertolt Brecht, POEMAS E CANÇÕES, Selecção e versão
potuguesa de Paulo Quintela, 1975, Livraria Almedina
Comments:
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Acho que tenho o Brecht todo.
Vi grandes espectáculos com textos deste grande dramaturgo, em Portugal e em França.
Os Tambores, O Círculo, A Excepção, A Mae Coragem, etc.
E tão produtivo que o homem era!
Um abraço,
Manuel
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Vi grandes espectáculos com textos deste grande dramaturgo, em Portugal e em França.
Os Tambores, O Círculo, A Excepção, A Mae Coragem, etc.
E tão produtivo que o homem era!
Um abraço,
Manuel
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