Friday, January 26, 2007

 
"De la musique encore et toujours
....................................................
Que ton vers soit la bonne aventure
Éparse au vent crispé du matin
Qui va fleurant la menthe et le thym,
Et tout le reste est litterature."
Verlaine

"Et c'est pourquoi ce livre ci (qu'il était peut-être
bon d'écrire) nous savons, toi et moi, a quels mysterieux
balbutiements le réduirait le tête-a-tête-et tout ce que
je n'ai pas dit, qu'il ne fallait pas dire. Et tu sais combien
de pages menteuses devront, pour des motifs de faiblesse
personelle ou de nécessité invencible, accompagner la
bonne page, celle que ce livre encore annonce et
ordonne-tu sais, tu comprends et tu pardonnes...".
Charles Morice

Balada da Neve

"Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville.
Verlaine

A Vicente Arnoso

Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
e a chuva não bate assim...

É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...

Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?...
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
-Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho.

Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos,
-Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
-E cai no meu coração.

In Augusto Gil, LUAR DE JANEIRO, 1997, Lisboa, Edições Ulmeiro


Comments:
Olá José.

A Balada da Neve faz parte do meu imaginário poético. Aliás, acho que faz parte de todos nós... é assim como o inconsciente colectivo... da poesia, neste caso.

Alguns dos textos que aqui faz referência conheço, outros não. É sempre interessante encontrar textos que já lemos há uns bons anos, e lê-los a uma nova luz. É uma coisa que gosto muito de fazer, reler coisas que já li.

Bom fim de semana e um abraço :)
 
Aujourd'hui, mon coeur pleure aussi, comme il pleut sur sur la ville.
Ne n'ai pas honte de dire que je pleure; En pleurant, j'acquiers ma condition d'homme.

Je te serre les os, mon ami!
 
Olá Papu:)

Boa noite!

Tem razão, a Balada da Neve é um dos momentos mais singulares do nosso imaginário poético. Muitas pessoas conhecem o Augusto Gil por este poema...muita gente anda à procura desta referência da sua escola primária...

Esta forma de divulgação dos livros através das suas epígrafes merece-me algumas dúvidas...
Para já vou continuar. Cansei-me dos meus textos!

Bom fim de semana. Um grande abraço!
 
Caro Manuel,

Como eu te compreendo...Há coisas que não conseguimos evitar, infelizmente!...
Um forte abraço e a amizade certa do,
Zé Ribeiro
 
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