Saturday, December 16, 2006

 
Serás tu, pois, o nosso mais ilustre e insigne
bardo, versos e versos da mais alta estirpe,
mas, meu safado, essa do amor platónico não
a consigo engolir, uma bela partida é o que é,
um teu ilustre biógrafo afirmou algures que
num dia em que o céu estava brilhante e um
sol enorme apareceu a aquecer a terra, te
meteste muito silenciosamente dentro de um
barco com seis lindas raparigas, a forte maresia
perturbou-lhes os sentidos e logo após a
largada aqueles belos seios nus te levaram a
questionar seriamente os teus mais castos
votos, ah grande malandro, desta marítima
aventura escondida tão sabiamente pelos teus
biógrafos nada direi, fica descansado...
Tens sorte, pá, nem dá para descobrir um
ror de coisas que nos vêm à cabeça e que o
narrador gostaria de atirar como pedras a
rolar entre o cume da serra e o vale, como
quando era criança, assim, por exemplo, uns
fardos acumulados ao peso dos tempos,
amigos que partiram cedo e nos disseram da
urgência da vida. mortos para sempre e
nenhum deus os poderá ressuscitar
falaremos destes rostos perdidos na
solidão das águas desta tão insustentável
dor de os ver partir tão cedo e tão perto
do uivar dos lobos na floresta de uma tão
bonita carícia encontrada no espaço dos
passos em vão da amizade traída dos amores
perdidos no nevoeiro tal qual o jovem rei
que um dia virá para julgar os vivos e os
mortos dos sacrifícios em vão falemos ó
criaturas que sonhastes o velho mundo
liberto da derrota e da traição dos fantasmas
que habitavam a própria casa e ninguém
nunca os soube ver, certa espécie de aranha
habita agora a noite, a teia que vai tecendo
é cada vez mais apertada, duas ou três moscas
distraíram-se, coitadas! os fios, as linhas,
as linhas dos carris, a textura do discurso,
o homem é filho das ervas, as cordas
definem a qualidade do instrumento,
vê-se bem se o instrumento é mais ou menos
sensível, o importante são as mais belas e
perfeitas pernas que algum dia pisaram
esta relva...o fio, a linha, os lineamentos, o feto,
a planta, o homem feliz, os filhos-família,
o homem filho das trevas, o homem nobilíssimo,
de antiquíssima família, a pequena libertina,
a libélula em passeio pelos campos, a doce
paz dos amieiros, a água a chorar nos montes,
os olhos de água, uns olhos cravados de água,
o mais brando dos lumes, os olhos mais doces,
o polipódio, a planta da casa, a carne em flor,
a textura do discurso, o estilo, o fio, a linha,
os filamentos, a teia, as teias, os lineamentos,
os instrumentos de música, os poemas
conduzidos com a tua arte: invoco os meus
mestres Álvaro de Campos, Ricardo Reis,
Alberto Caeiro, Fernando Pessoa...tantas
pessoas numa só, um homem tão filho das
trevas carregado de luz, ergo para ti a
minha taça cheia de folhas de abeto, o novelo
dos fios, os insectos semelhantes às folhas
de feto, levanto a taça para que um menino
possa declamar os teus poemas, junto-os
a estas formosas águas, imagino o mais puro
dos pensamentos, uma doce rapariga deitada
de bruços, as tuas mãos acariciando os seus
cabelos, novelos de fios emaranhados, uma
manhã de música no bosque, um pensamento
generoso, um sentido figurado, os teus braços
envolvendo a sua cintura, a estrela preguiçosa
na cama, uma aranha presunçosa na manhã,
um reino, um herdeiro, a maior fidelidade,
a eficácia das tuas palavras, o exercício do
ofício, o fundamento, o alicerce... um rapaz
louro, alto e imberbe declama a Mensagem
aos quatro ventos, a tocha de mão em mão,
o apelo do mar, D.Sebastião partiu para
África e nem sequer sobrou um cavalo,
que país se aguentará sem cavalaria,
sem montaria, sem asnos para montar,
sem bois para lavrar, sem cavalos para montar,
sem mulheres, criar, lavar o alforge, a sacola,
a esmola os cativos, o cativeiro dos ricos,
as esmolas, os defuntos, a função, o
pagamento dos tributos, as tochas,
os cargos honoríficos, prometer muito,
nada fazer...

Comments:
José ...


O desassossego.
Faltou-me o ar a ler, de seguida, tal como foi escrito.


Um abraço!
 
alex...



claro, o desassossego!




Um grande abraço:)
 
:)



O José é uma pessoa especial.
Bem dito o dia em que se cruzou connosco. Acredite que o digo de forma sentida.


É boa esta partilha.
Um abraço José


E ... desejo-lhe um Feliz Natal, assim, tal e qual desejo a todos os Amigos que caminham lado a lado nesta estrada.

FELIZ NATAL JOSÉ!
 
Alex:)

Fui visitá-la para lhe desejar um Natal com Alegria e Saúde para si e para todos os seus...e um Ano de 2007 repleto de sonhos realizados, felicidades...enfim aquilo que nos torne melhores e mais felizes!
Eu é que sou devedor nesta partilha...cheguei devagarinho, por pura coincidência...digo eu, e saio mais enriquecido! "Somos dóceis, estamos sempre prontos a aprender"!, digo eu por aí algures.
Mas mais importante é sermos gratos...num mundo de gente tão medíocre e soberba!
Vou terminar...por hoje, porque a coisa começa a...ficar fora desta quadra tão...tão normalizada!
Um grande abraço!
 
:)))


O prazer na partilha é todo nosso.
As suas palavras cam sempre bem, quem diz caem, quer dizer sabem!

Um bom ano José.
 
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