Sunday, April 09, 2006

 
O Difícil Comércio das Palavras..........12

A casa perdida entre os ulmeiros era um magnífico refúgio, aqui voltarás sempre que queiras, virás de braços abertos como todos merecemos, o teu quarto está como dantes, a humidade é sempre o pior, lembra-te da caliça e do reumático, a espingarda dos pássaros estava à tua espera, não lhes acertes, fazes pontaria um pouco ao lado, não custa nem é grave, não faças barulho, nenhum vizinho te incomodará e poderás mesmo dedicar-te à escrita, esse livro talvez possa terminar melhor do que nós, mas isso é a única coisa importante, e por isso entenderei o teu egoísmo, semelhante ao meu, o pior é o ladrar do cão há tanto tempo, agora não há incêndios nem vale a pena guardar a floresta, fica-te com essa que a mentira compensa, visitar um pai e uma irmã, que já não visito há muito, e, no entanto, o resto está feito, que adianta rememorar as coisas mais tristes se o teu crescimento se nota em todos os pormenores e reaprendeste a alegria de estar só no silêncio da noite, apenas entreabriste os olhos para contar quantas vezes andou o morcego ao redor da luz, vezes infinitas, impossível saber agora, mais tarde talvez e o sono acabou por vencer-te. Foram muitas noites sem dormir. Merecias a paz do reencontro contigo, atá sempre, apesar de tudo, gostaria de saber-te viva e feliz.

(J.A.R.)

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