Saturday, April 08, 2006

 
O Difícil Comércio das Palavras..........10

Força meu velho, acima de tudo a coragem, logo daremos uma volta pela azinhaga e mais tarde sentar-te-ás comigo a guardar as ovelhas. Se soubesses o que custa ser pastor de uma freguesia destas com as beatas a rondarem-me a casa, um homem nasce, a tua mãe é que foi a causadora de tudo, bem sei o peso dos teus olhos, Maria das Dores, a serra, o trabalho aos oito anos, os filhos, e novamente as dores de parto, os que morreram cedo, e nós todos à tua procura, a aflição e as arrelias, o relógio do pai, tiveste algumas tardes de glória, vivo diabo, latas de sardinha toneca pelas adegas que nunca mais as comeste tão boas, ainda agora fizeste nova tentativa, mas é tarde pá, nem os amigos estão na mesma, alguns já lá vão, a puta da guerra e os traumas, as noites ao relento a assobiar para as estrelas, o porte majestoso daquele velho pinheiro manso especado no cimo da aldeia, o nosso mundo, as cartas por jogar, os dados estavam lançados e nós por ali à espera de boas notícias, uma namorada ou um bailarico, ingénuos como sempre, a verdade é que já nem te conheço hoje rapaz, bebíamos pelo mesmo copo, e agora?

(J.A.R.)

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