Sunday, September 24, 2006

 
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Irei pelas alamedas mandar cantar um cego, sentar-me-ei nas margens dum rio a ouvir o murmúrio das águas formosas, mais tarde os galos hão-de cantar só para mim, tenciono por fim dar uma escapadela para ouvir o Wagner, apenas isto, apenas o teu corpo na madrugada, apenas uma flor no teu sexo, bem vi onde ficou a tua alegria, não é necessário mais nada, um rio ou um grande mar inebriam-te os sentidos, ainda ontem reafirmavas todas as tuas esperanças, e nem uma palavra acerca da guerra, cedo ou tarde veremos para onde nos conduzem, podia saber ao menos quantas paragens há no percurso, não se entra assim num camião sem mais nem menos, a última reparação foi extremamente dolorosa, e dos soluços nem falar, lágrimas e lágrimas vos perturbam, só com sossego se constroem as melhores obras.

(J.A.R.)

 
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Sempre tive uma enorme admiração por estas árvores nas margens, parecem-me estátuas, o meu amor pelas formas, a escultura, bem sabes que a natureza é mãe, basta abrir os olhos, pelos olhos entramos no dia e na noite, vês mal, não te preocupes, amanhã há médico da caixa, levaremos lá os amigos em primeiro lugar, mas não há pressas, é para ver c0om jeito, se têm dúvidas meus senhores percam-nas, é entrar pela porta dianteira, e não se queixem da qualidade do serviço, utilizem com sobriedade o livro de reclamações, bem sabes que não as tens tido, o pior é o medo, a tua pressa? Dedica algum tempo à antropologia, o homem precisa disso e eu preciso tanto, deixaste a fome ancestral? Virá um camião carregado de mantimentos, iremos pelas barracas saciar a fome, distribuiremos também a angústia pois não adianta vencer apenas o medo.

(J.A.R.)

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