Friday, June 29, 2007

 
Chegado aqui anda o narrador desesperadamente
à procura do Engº. Ferreira de Magalhães quando
sem mais aquelas descobre um lindo cão. Para ali
ficou sentado com o bicho a ruminar a razão do
súbito desaparecimento do ilustre personagem. Foi
quando resolveu a questão com uma tirada brilhante:
o Engª. Ferreira de Magalhães completamente destroçado
pelo tal passeio resolveu entrar de férias e sumir-se
para o Algarve.
A expressão do olhar do animal perturbou o narrador.
Aquietou-se junto às ervas, estendeu-se ao comprido
e para ali se quedou a contemplar o horizonte. Os
pensamentos que habitam a cabeça de um narrador
são sempre maiores que os personagens que ele vê
defronte do cenário de um romance. E para lá do
horizonte quais os pensamentos que viajam no
infinito espaço? Que ideias vogam no éter e qual a
velocidade desta nossa viagem? Para onde nos dirigimos
todos? Para onde viajará o Engº. Ferreira de Magalhães?
Que pensamentos serão os seus neste momento preciso?
Diz: aqui estou, apenas eu, liberto do peso das aranhas
e dos insectos, vogo na noite de breu, as ramagens
vergadas são os únicos fantasmas visíveis, eis-me aqui
pronto para mais uma importante etapa da minha vida,
é noite, aquela mulher deseja-te, pôs um ramo de hortênsias
na cabeça e fez o seu melhor sorriso. Que desejos a habitam?
Ainda lá estarão as tétricas aranhas da tua infância, ou
serão centopeias? Têm mil pés e dirigem-se em câmara
lenta para cima dos seios dessa linda mulher, um grito
ecoa na noite, que foi querida? ah, querido, se soubesses
o horroroso sonho, mil pés de centopeias caminhavam
pelos meus seios e começaram a envolver-me os mamilos,
foi uma estranha sensação de gozo e horror...mas já passou!
Tens a certeza? disse-lhe. Ela respondeu nunca ter a certeza
de nada.
Um livro constrói-se com mil dúvidas e nenhuma certeza,
afirmou o narrador disposto a arrumar a questão por agora.

(J.A.R.)

Thursday, June 28, 2007

 
Não esperarei por ti. Mas não penses que vou
continuar na mesma a partir deste momento,
nada poderá recomeçar na nossa vida, dás
cabo de mim, ainda para mais com a arrogância
de que tens dado provas, mas vai lixar-te, ficas
maluco e eu também, que o não mereço, não me
arrelies que não estou agora para isso, penso
devolver-te as fotografias e as cartas, nada mais
me prende a ti, só as mãos vazias de tanto te
procurar, mas cansei-me, não quero mais
saber de ti. Boa noite.

(J.A.R.)

Wednesday, June 27, 2007

 
Nunca na vida te ofereci uma flor, por distracção,
acredita. Distracções, pois, pois, não inventes, a
verdade é que nunca reparaste numa flor, confessa
aí, aspira o perfume do campo e vai ao mar. Ou então
toma uma atitude frontal, daquelas de estarrecer,
como o Sá de Miranda, já nem te lembras dos olhos
esbugalhados do professor quando pediste a palavra,
com o ar mais solene do mundo, (já tinhas feito a
comunhão solene), e disseste na aula sobre o Canto
Nono que nos andavam a enfiar barretes e depois a
malta andou por aí à procura duns "lusíadas" decentes
e custou como tudo descobri-los, aquilo era um
reformatório chato, mas não entrarei por aí desta
vez, custa imenso, o Sursum Corda e o Deo Gratias,
o vinho santo e a piela do outro apanhado com a
boca no vinho da missa e ai o gajo que mamou todo
o sangue de Cristo, expulsão pela certa se a malta
não se tivesse levantado para o impedir. Por aqui
entrarias em longos detalhes para explicar um
jornaleco clandestino que lá se fez, o Pólvora, estás
a ver o cheiro, mas já não adianta muito lamentar
o acontecimento, até pelos mortos, muitos e pela
santidade de alguns, santos de pau e pedra, que
ainda por lá estarão nos cantos da Capela e nunca
mais te curavas, tenta desligar-te, faz um certo
esforço, recorda os braços da amada ao redor do
teu corpo, diz que é um enorme cansaço que te
corrói a consciência, ou então entra pela porta das
traseiras e nunca mais regresses, O.K., estamos
conversados, mas bem vês que não é possível, os
amigos por onde andarão, tantos, do Norte e do
Sul, trocavam alguns os bês pelos vês, e de quase
nenhum tu sabes hoje, o que tu darias para os
juntar de novo, porra, parece que estás a escrever
as memórias, já velhinho e caquético, deixa-te de
histórias.

(J.A.R.)

Tuesday, June 26, 2007

 
Ouvi tudo o que me disse e custa-me a crer,uma
pessoa tão educada, um perfeito cavalheiro,
é sempre o primeiro a ceder o passo às senhoras,
abre as portas com tanta delicadeza, o último
dos simpáticos a pirar-se quando a conversa não
agrada, e ainda por cima dado às letras, ai um
doutor na família, frazem tanta falta, graças a
Deus que assim é. Desafiaste então algumas leis,
as imutáveis, e Deus fez o homem à sua imagem
e semelhança, aguardavas um encontro fortuito,
a mulher não te ligou bóia, está perdida de todo
mas é pelo outro, cedeste a vez a esse réptil que
disse: faz favor, primeiro as senhoras e tu, depois
as criadas, bem feito, para ver se se cura, talvez
com muito repouso, uma casa de repouso e muito
sol, mesmo filtrado pela janela, para não se ver,
parece mal, o vizinho usa binóculos para espreitar
os amantes, surpreende-os na cama e aí está o alibi
necessário à polícia, pois cama e tudo é uma coisa
indecente, ainda se fosse longe mas tão à nossa
porta, não vale a pena, não se incomode, chegue-se
mais para aqui, o filme não interessa, aquele olhar
do Bogart não me entusiasma, cuidado não dê cabo
das meias, mais um pouco ao lado, aí sim, o senhor
é cómico, lembrar-se agora de mim, tinha os meus
pensamentos tão longe, nem sei bem se o meu marido
vai acreditar nisto tudo, parece um sonho bom demais
para ser verdade, os audazes vão para o céu, ou levam
nos cornos para não serem atrevidos, se no nosso tempo
isto se via, uma senhora no cinema e vem um gajo
meter-lhe as mãos pelas pernas acima, o figurão, mas a
cidade vai recompor-se a caminho de uma grande limpeza,
Ordem e Autoridade, mais polícias e ladrões, o que uns
têm a mais têm outros a menos, esse teu livro vai ser um
fracasso, o editor gostava de um best-seller mas não vai
ter sorte, agora até já nem dá gozo escrever, perderam-se
as causas nobres, a raça está a amarelecer e qualquer dia
desata tudo numa guerra de índios, mas cá vamos indo
na graça de Deus, tirando os que mararam, também não
fazem falta, depois de burro morto cevada ao rabo, ainda
se oferecessem as flores em vida mas nada disso, esperam
todo o tempo e quando um gajo menos espera, flores e
mais flores.

(J.A.R.)

Sunday, June 24, 2007

 
Heróis à força, mulheres à espera a morrer com eles,
os traumas, as aflições, as horas sofridas em noites
de relento, e agora que te puxou ao sentimento...
Foi uma difícil conversa, o tempo passou e já levou
uma parte de nós, acho-te diferente, um tipo tão
divertido tornou-se com ar tão cansado, pára um
pouco, vem até cá a casa, esta é a Maria e estes os
catraios, crescidos, nem é preciso mijar-lhes nos pés,
lembras-te das nossas noitadas? Vi muitos entretanto
à espera de um novo sonho, talvez uma casa ou uma
mulher ainda venham a tempo, saio mais tarde para
a horta e não vale a pena incomodares-te comigo,
desenrasco-me bem, estou atento às circunstâncias,
se tropeçar paciência, até gosto de fazer de parvo,
encosto o rabo à parede, depois mando-os à merda,
que é o que merecem com todas as letras, ainda
agora ouvi um que se gabava de não sei quantas
fodas naquela pequena, a moça até é engraçada,
mas o estúpido é uma merda de senhor, são muitos
mais do que pensas num país de sacripantas e
falsários.
-E que culpa tenho eu das tuas fodas? Vai para o
caralho com a conversa.
Descobrirás agora o caminho da fama, pois é, ganhas
fama e deitas-te a dormir, e a culpa é toda tua que
não tens jeito para as convencer, com falinhas mansas
elas caiem todas, escolhe um bom tema e diz-lhes
palavras bonitas ao ouvido, elas gostam é disso, mas
não te ponhas com muitas conversas, se não te
atirares de cabeça estás fodido, que é quando o
ferro está quente que se bate no malho, de resto,
se a conversa não te agrada manda o livro à merda...

(J.A.R.)

Tuesday, June 19, 2007

 
Regressado ao lugar do destino Afonso serenara,
tal como as searas em tempo soalheiro. Sentado
junto à sua pobre habitação deitava os olhos para
o mais fundo do horizonte e meditava com a
memória ainda próxima as desgraças do filho da
puta do hospital.
Que grandes sodas, pensava. Já um homem não
pode fazer o que lhe dá na real gana. São todos uns
desgraçados. Matam-se a trabalhar, andam ao dia
fora a aturar uns bardamerdas que se julgam gente
só porque ajuntaram uns tostões. Boas merdas é o
que são.
O sol estava agora insuportável, Afonso despiu a sua
esfarrapada camisa, pegou na velha enxada e deitou-se
novamente ao trabalho como nos velhos tempos. É
agora mais imperioso do que nunca preparar as covas
ao redor dos pinheiros e eucaliptos para que mais
facilmente possam receber a santa água a que têm
direito. Afonso não recua um milímetro nos seus
santos propósitos de regressar em grande força
àquilo que o fizera célebre.
Era agora um homem conhecido, choviam telegramas
de felicitações de todo o país, aquela inteligência
nascera no mato mas não havia dúvidas de que era
agora património de toda a humanidade. Como
estarão recordados os meus amáveis leitores, o país
ainda não tem nisso grande pressa, mas já está
firmemente decidido a declarar o Afonso reserva
moral e intelectual da Nação.
Parece que esta sábia decisão deixou enrubescentes
as trombas de alguns medalhados generais, aqueles
de carinhas rosadas, estão a perceber, e que em
reuniões sociais sucessivas tentam dar a entender
que não acatarão estas ordens que vieram do alto,
mas quem desobedece e é tropa está fodido, dizem
os regulamentos. Talvez os regulamentos estejam
do lado do Afonso desta vez é o voto de todos os
seus inúmeros admiradores e admiradoras, estas
em maior número.
Quanto ao povo da aldeia a divisão é inevitável. A
partir do momento em que os jornais, a rádio e as
televisões começaram a meter-se no caso tudo
mudara de figura. A decisão da estátua, os retratos
nos jornais, as reportagens das rádios e os directos
com a cara chapada do Afonso a entrar nos lares
portugueses fizeram logo pender a balança a seu
favor. Afonso era agora o génio favorito para a
imensa maioria. Estavam com ele os jovens, a maior
parte das mulheres, o regedor, os partidos políticos,
a maior parte dos homens, só o padre ainda não
sabia bem para que lado cair, mas este também
cairia para um lado qualquer sem problemas de
maior, alguém o ouviu dizer que na inteligência do
Afonso habitava a infinita sabedoria de Deus, pronto,
também este já caiu para o lado do Afonso.
Afonso começa a dar mostras de grande cansaço.
Os inimigos de ontem, amigos de hoje. As juras de
amizade eterna fizeram-no sentar no pinhal em
meditação. A amizade, mas como é isso?
Bem sabes isto e mais aquilo, lembra-te de mim
quando tiveres a estátua, se fores almoçar com o
Presidente mete-lhe uma cunha, a minha Aninhas
está a precisar de um emprego, um tal senhor
precisa de mais um favor do partido para consolidar
não se sabe o quê, vê lá isso com o deputado fulano
de tal, e mais isto e mais aquilo, era um nunca mais
acabar de pedidos, cunhas, lembranças, até orações
lhe deitaram lá em casa. Havia também uma grande
colecção de benzeduras para distribuir pela aldeia,
queres ver que ainda se voltam contra o Afonso, hoje
tudo contra o padre e a favor do Afonso.
A velha Felismina ia ruminando a sua vingança. Ah ele
é isso, onde já se viu uma coisa destas, não tarda
fazem-no santo mesmo nas minhas barbas, salvo seja,
não, não pode ser. Gente desmiolada!, reuniu as
comadres lá em casa ao serão, nada como antigamente,
faltavam já uma data delas, algumas desculparam-se
com uma ou outra doença sem importância, já se vê,
logo lhes diria a essas desavergonhadas e ia congeminando
o seu plano, pensando na terrível vingança que está
reservada aos cobardes, são uns cobardes, não podem
ver uma televisão mudam logo de opinião, ou de partido,
está bem de ver. Mas um plano bem gizado não se compadece
com improvisações. Começou a estudar todos os pormenores,
o abc, a cartilha maternal, leu quase tudo àcerca de como
ser capaz de levar o rebanho ao redil já que o próprio padre
se transviara. Disse: esta noite já não vou à capela, nem
passo os paramentos do padre e na missa logo verão o resto.
Aconselhou-se em tudo quanto era sítio, só não perdoava
a traição do padre.
Afonso mantinha-se no seu lugar, ia e vinha carregando os
seus santificados baldes de água que as covas bebiam
sôfregamente, inovara, devido ao perigo da poluição
deixara de se abastecer no rio, decidira agora abstecer-se
directamente no chafariz da aldeia, um furo com mais de
100 metros de profundidade garantia-lhe a pureza
indispensável para o cumprimento rigoroso da sua tarefa.
Era um trabalho cada vez mais árduo, mas ganhara
cambiantes diferentes: o povo fazia alas para o ver passar,
heróico caminhante de suor em bica, esforçado e delicado
cavalheiro destas minhas aventuras, quem o pudesse saber
lá bem do cérebro qual o segredo para esta tenacidade,
este vigor, este peso na terra, esta dor atirada à consciência
da aldeia, à inúmera multidão dos medíocres sem fé nem
entendimento, inacreditável espectáculo humano de
facúndia, horas e horas de esforço, até as televisões
apareceram a filmar o Afonso, que logo avisara por hoje
O.K., para a próxima levam estas máquinas de volta, pois
tenciono exigir o meu direito ao silêncio total, ouviram
seus escriturários do terceiro milénio? Não tinham melhor
para enviar cá seus bestuntos?
A velha Felismina em conluio com a mulher do Cu à Vela
resolveu fazer uma promessa: a Senhora de Fátima é que
iria decifrar o que estava ainda por decifrar.

(J.A.R.)

Wednesday, June 13, 2007

 
Quem poderá deslindar o tal único fio
da meada quem nos trará notícias das
noites perdidas e que gota a gota vão
construindo o seu caminho sempre em
queda no monte?
um avião sobre as nossas cabeças fende
os céus qual pirilampo gigante e fala de
outros mundos outras glórias mas este
fogo devorador inunda a casa e um leve
torpor entorpece os músculos desistir
é a palavra dos cobardes e não é o
momento de lavrar a sentença final
todos nos perdemos neste infinito
espaço cansados de tudo e de quase
nada pouco sabemos de nós a vida tão
rápida sempre a correr como os olhos
desta multidão que carrega sonhos e
amores

Monday, June 11, 2007

 
Foda-se a tua angústia, vai ao mar e não
venhas tarde, traz uns trocos e esquece
aquela terrível bebedeira de medronho,
ainda hoje tens vómitos, isso faz-se?
Gostarias de continuar, mas a noite ainda
é uma criança, não durmas agora, guarda
para mais tarde, ficaste de velar comigo
e nem ao menos aguentas estes momentos?
Nas noites difíceis é que o termómetro tem
capacidade para medir a angústia, toda a
angústia, do universo.
Era um tipo ajuizado mas lixou-se nem sabe
bem quando, andava distraído! Ou foi só um
ar que lhe deu, o padre naquele tempo,
também sabia dizer umas coisas e tomava
notas sem ele ver, havia coisas giríssimas,
um estilo romântico, os padres desmaiam
a sonhar com a Virgem e o Cristo gosta deles
lúbricos e sensuais, podes ainda descansar,
velamos pela tua saúde, quem dá mais, quem
dá mais, lembre-se o acidente espreita-o em
cada esquina, atenção cidadãos, é proibido
beber o sangue das vítimas, vampiros é o
que se chama a esta corja de pequenos e
grandes filhos da puta.
Sabes que a política fode tudo, todos querem
o mesmo, pá, o Zé que se foda e desculpa
se te maço, não fumo português suave, tu
és um gajo comprometido, olha, não devias,
os intelectuais não deviam meter-se nessas
coisas, são assim uma espécie de reserva
natural, ficam para depois criticar o poder
seja ele qual for, porque isso filho, todos
querem o mesmo, não quero desanimar-te,
tu é que sabes, até já nem és uma criança,
ainda se o teu pai fosse vivo, deves cuidar
de ti, quem te disse que isso não me diz
respeito, ficas à espera que te atirem e nada,
a toca estava bem à vista e agora vai
finalmente chegar o tempo da caça!

Sunday, June 10, 2007

 
Onde nos vamos encontrar? Descobre tu um sítio
calmo e sossegado, talvez junto àquele coral no
fundo do mar, talvez no canto mais longínquo do
planeta azul, talvez junto a um fogo abrasador,
talvez sim, talvez não. Num mundo de sim ou de
não é bem mais prudente nada programar de
especial.

(J.A.R.)

Friday, June 08, 2007

 
Veremos se estas calmas águas nos dizem
de mercadores do oriente veremos se estes
tempos são de bonança e alegria veremos
talvez um belo dia uma bela mulher acordada
no meio do vendaval que dizer então destes
ventos nocturnos que dizer destes cheiros que
nos inundam o cérebro e nos falam do rio
do esquecimento e de terríveis sequelas

(J.A.R.)

Wednesday, June 06, 2007

 
Este é o meu post 250! Durante este ano
e três meses fiz esta aprendizagem, fiz
amigos/as, ocupei algum do meu pouco
tempo, visitei outros trajectos e sei que
estou apenas no começo...de resto acho
que estou sempre a começar tudo!...
Durante todo este tempo não fazia a
mínima ideia da quantidade de pessoas
que me liam, ou por aqui passavam
até como quem se despede!
Graças à Alex (um grande abraço, Alex!)
pude constatar que, afinal, em duas
semanas tive mais de 750 visitas.
Espero continuar...espero não os
desiludir...espero acima de tudo
deixar nem que seja um único
verso que possa emocionar alguém,
que possa ajudar uma pessoa especial,
num momento especial.
Por tudo isto que aqui fica e por tudo
o que fica sempre por dizer, OBRIGADO!

(J.A.R.)

 
Vais cair para o lado quando descobrires
o azul do mar, infinitamente belo, que
mais queres? Um lindo silêncio
emoldurava-lhe o rosto de rapariga jovem.
Ainda agora um fantasma a perseguia por
aquele enorme casarão e não fazia a menor
ideia do tempo necessário e ideal para o amor.

(J.A.R.)

Monday, June 04, 2007

 
Gostei de viajar contigo, era uma bela manhã,
e a verdade é que concordarás comigo: só
existe um amanhecer e se não te apressas
não o chegarás a encontrar. Até porque nem
sequer tens o direito de duvidar de mim, ou
de nós?

(J.A.R.)

Sunday, June 03, 2007

 
O Engº. Ferreira de Magalhães desancava o Henri Miller.
Aprendera de cor uma série de escritores e já nem sabia
se aquilo correspondia ao seu pensamento mais puro.
O Cu à Vela disse-lhe assim: fala bem a valer, ó Engenheiro,
até me regalo de o ouvir. Mas não entendi nada, também
não faz mal, é quase sempre assim, as pessoas falam por
falar,exceptuando, claro, os políticos que esses têm sempre
muito a dizer ao povo, com trabalho e paz tudo se consegue,
ainda havemos de ser um grande país, de leite estamos
assim assim, não faltam nabos, nem batatas, nem cebolas,
nem alhos, trabalhem que para vosso bem será, aproveitem
ao máximo a nossa determinação em servir-vos com toda
a alma e saber, olhem para as nossas obras, vejam o que nós
dizemos, não olhem nem para a esquerda nem para a direita,
olhem em frente, um dia destes entendereis melhor esta
alusão, estamos aqui para ouvir as vossas críticas, que Deus
Nosso Senhor vos ajude, amén. E pronto, com esta me vou.
É tempo de virar o disco para que a música mude.
A campainha está avariada, fiquei pregado à tua porta um
bom par de horas, tanto tempo que me esqueci de quase tudo,
até da missa e da jovem donzela vaporosa como a lua em
noite de luar, deitada com o Cu à Vela no fundo da charneca
em flor. O filme não merecia aquela bela companhia e nem
por isso tinha grande movimento. Como uma desgraça nunca
vem só as mamas da protagonista eram imponentes, e, parvinho
de todo, o Engº. Ferreira de Magalhães correu para a casa de
banho, já não havia lugar para mais um, assim se perdem as
boas ocasiões, pensou.
Foi então que se lembrou de um passeio longamente adiado,
tinha vontade de partir, de se meter em aventuras mas as
pernas não estavam para isso. Naquele dia, com o vento de
feição, os olhos preparados para ver, ouvidos de mercador
à escuta, ditou a sentença: é preciso dar um passeio. Mas
onde, para que estranhas paragens me conduzirá a mente?
E disse não é tarde nem é cedo! Nunca é tarde nem nunca é
cedo!
Lembrou-se de uma dívida antiga para saldar e começou o
passeio invocando a esbelta e nobre figura de Fernando
Pessoa, põe-te a pau, pá.

(J.A.R.)

Friday, June 01, 2007

 
Ainda nem sabes o que pensar da vida. Tudo é fácil e se
explica, mete os pés pelas mãos para te entenderem, se
não perceberem volta ao princípio e faz o contrário, mete
as mãos pelos pés, depois já sabes o que lá vem: o prémio
ou o castigo!
Claro que o teu livro é bem o sinal da mediocridade destes
tempos, nem sombras dos nossos maiores, uma unha sequer
do Camilo ou do Eça, ainda a cultura nos chega de França
em caixotes, agora melhor aconchegados, mas chega, claro
está. Não te faças distraído, por onde andaste que chegas
sempre tarde, nas putas ou quê, está bem de ver que sou
um tipo bem comportado, não se nota, na aula o único
óbice é aquele vestido transparente da professora
esgazeada, quem a manda vestir assim, depois é o que se
vê. Habituei-me e agora já nem me rio do esquecimento,
habitava então uma espécie de reformatório e neguei-me
à ginástica, porquê, já nem me lembro bem, e já nem
quero sequer recordar.
Aconchegaste-te ao meu ouvido e as únicas palavras que
ressoaram, assim o lembro e desculpa se me engano,
foram estas: "Amo-te loucamente". Depois eu disse:
procurei-te desesperadamente em todas as mulheres
que amei. Esperarei todo o tempo do esquecimento.

(J.A.R.)

 
Ou tudo ou nada. Já o dissera tua mãe com ares de
profecia barata, mas de qualquer modo deu certo.
Diz lá tu ó Belzebu?
-O melhor de tudo é o inferno, porque todos os
sonsinhos estão no céu!...
Não renegues as tuas tradições, os antepassados,
os que já lá estão e, nunca esqueças, bem sabes
que estamos aqui cantando e rindo e alguma vez
chegará a tua hora. Vezes sem conta caminho para
esta capela, rezo por ti dezenas de terços, assisto
a todas as missas e a verdade é que estás cada vez
pior, nem ao menos uma Avé-Maria de vez em
quando, do que eu me lembro bem é daquela
passagem "entre as mulheres", muito quietinho,
mas também muito quentinho, "entre as mulheres",
claro, claríssimo.
Nenhum morto ficará sem sepultura ainda que te
veja defender a cremação, as tuas cinzas atiradas
pelos campos, ou preferes que as mande deitar ao
mar? Ouve, nunca te fiz jurar nada, nem mesmo
agora. Faz o que te der na real gana.

(J.A.R.)

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