Wednesday, February 28, 2007

 
"Terá acaso sido vâ, superada e repudiada
pela vida, a fé, a esperança, a vontade de
sacrifício de uma juventude europeia, que,
se assumiu o belo nome de "resistência"-
resistência internacional contra o massacre
dos seus próprios países, contra a vergonha
de uma Europa hitleriana e o horror de
um mundo hitleriano-, não queria simplesmente
"resistir", senão que pretendia ser a vanguarda
de uma sociedade humana melhor? Tudo
isto terá sido em vão? Inúteis, perdidos,
o seu sonho e a sua morte? Não, não pode ser."
(Do Prefácio de Thomas Mann às "Cartas de
condenados à morte da resistência europeia")

In Urbano Tavares Rodrigues, AS MÁSCARAS
FINAIS, 1ª. edição, s/d, Livraria Bertrand

Tuesday, February 27, 2007

 
"Verso libre, verso libre...
libra-te major del verso
Cuando te esclavice."
Antonio Machado

"...E há em cada canto da minha alma
um altar a um deus diferente."
Álvaro de Campos

"Façam completo silêncio, paralisem os negócios
Garanto que uma flor nasceu."
Carlos Drummond de Andrade

In António de Navarro, POEMA DO MAR,
1957, Portugália Editora

 
"Não sinto falta de grandes timbres orquestrais.
O entardecer me basta."
Carlos Drummond de Andrade

"Paysages pour abolir les cris.
Paysages comme on se tire un drap sur la tête"
Henri Michaux

In David Mourão-Ferreira, OS RAMOS OS REMOS,
1985, Areal Editores

Monday, February 26, 2007

 
"&. Me había olvidado que un poema
se prepara con minuciosa alegria
como un regalo que ya nadie espera.
Un poema se moldea
con urgencia e violencia,
con irrepetible, con irremediable ternura,
como hacerle el amor
a una mujer que se va a morir mañana."
Cesar Calvo

In Thiago de Mello, NUM CAMPO DE MARGARIDAS,
1986, Philobiblion

Sunday, February 25, 2007

 
"(...) tudo o que resta é o que partilho contigo:
uma existência de papel."
Lawrence Durrell: Mountolive

"Não há nenhum regresso nos meus passos"
Ruy Belo: Despeço-me da terra da Alegria

IN Al Berto, UMA EXISTÊNCIA DE PAPEL,
1985, Gota de Água

Saturday, February 24, 2007

 
"Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas,
Me parecem belas
Como os meus amores."
Camões-Endeixas a Bárbara Escrava.

"Mal haya quien los envuelve
Los mis amores;
Mal haya quien los envuelve."
Gil Vicente-Auto dos Quatro Tempos.

"Mas são flores que nascem na serra
Onde todo o mundo se encerra,
Porque aí tem-o seu bem-seus amores."
Garrett-A Adélia, apud Bernal-Francês.

IN Trindade Coelho, OS MEUS AMORES, 2000, Ulmeiro

Friday, February 23, 2007

 
"Não se me afigura bem omitir certas
coisas, principalmente as que se passam
longe do mar, embora a muitos possam
algumas delas parecer prodigiosas e
incríveis."

Plínio, História Natural, Liv.VII, Cap.I

IN Gastão Cruls, A AMAZÓNIA MISTERIOSA,
S/D, Edição Livros do Brasil

 
"Anna sabia que tinha de atravessar o deserto.
Do lado de lá, bem longe, ficavam as montanhas
-roxas, alaranjadas e cinzentas. As cores do
sonho eram extraordinariamente belas e intensas...
O sonho marcou uma mudança em Anna, no seu
conhecimento de si própria. No deserto, ela
estava só, não havia água e encontrava-se
muito longe das nascentes. Quando acordou,
sabia que se quisesse atravessar o deserto,
teria de se libertar das amarras."

Doris Lessing, O Caderno Dourado

In Robyn Davidson, TRILHOS No Deserto Australiano
com quatro camelos e um cão, 1999, Quetzal Editores

 
"Como Mallarmé, poderia dizer: Eis um livro como
os que eu não gosto. E não só pelas razões que o
poeta refere à frente das suas "Divagations" para
não gostar de livros assim, esparsos e privados
de arquitectura, mas por outra ainda, não menos
grave a meus olhos: a de não ter sabido distinguir,
na maioria destes escritos, a fronteira entre
prosa e poesia. Será que ninguém pode fechar os
ouvidos às suas vozes mais profundas?".

IN Eugénio de Andrade, OS AFLUENTES DO SILÊNCIO, 1974
Editorial Inova, Porto

 
" Todo futuro es fabuloso."

Alejo Carpentier

In José Saramago, A JANGADA DE PEDRA, 1986, Editorial Caminho

 
"La nuit n'est jamais complète
Il y a toujours puisque je le dis
Puisque je l'affirme
Au bout du chagrin une fenêtre ouverte
Une fenêtre éclairée."

Paul Éluard

In Daniel Filipe, "A Invenção do Amor e outros Poemas", 1977, Editorial Presença

 
Para as/os amigas/os:

Volto ao blog 15 dias depois. É a técnica, estúpido, o que me apetece dizer a mim próprio...Espero, como o Toyota, ter voltado para ficar!...

As epígrafes dos livros da minha biblioteca são sugestões de leitura. De uma forma ou de outra sou devedor de todos estes livros...

Por outro lado, prometo terminar o "Rio do Esquecimento". Um grande abraço a todas/os e Bom fim de semana!
J.A.R.

Sunday, February 11, 2007

 
"Há lugares no coração do homem
que não têm existência ainda; e
neles penetra o sofrimento,para
que possam tê-la."
Léon Bloy

In Graham Greene, O FIM DA AVENTURA,
1965, Tradução e Prefácio Jorge de Sena,
Editorial Estúdios Cor

 
" Há os que vivem nas trevas
e os que vivem na luz.
É fácil ver os da luz,
mas ninguém vê os das trevas."
Bertolt Brecht

In Manfred Gregor, A RUA, 1964,
Publicações Europa-América





Friday, February 09, 2007

 
Para a Alex
Para a Papu
Para o Manuel Barata
Para o Alfacinha da Silva,
autor do grafismo do poster
editado pelo Itau


"É preciso trabalhar todos os
dias pela alegria geral. É
preciso aprender esta lição
todos os dias e sair pelas ruas
cantando e repartindo, a
mão cristalina, a fronte fraternal."


OS ESTATUTOS DO HOMEM
(Acto Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I. Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II. Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III. Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV. Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo
Único: O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V. Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura das palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI.Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de outrora.

Artigo VII.Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII.Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX.Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

Artigo X.Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI.Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII.Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
Tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo
Único: Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII.Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo
Final: Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Santiago do Chile, 1964

In Thiago de Mello, FAZ ESCURO MAS EU CANTO,
1985, Civilização Brasileira

Este poema do Thiago de Mello foi editado nos anos 70, pelo Itau, Lisboa, em Poster que veio a ser proibido e apreendido pela PIDE. Esta edição, juntamente com "A Criança e a Vida" da Maria Rosa Colaço, vieram a marcar decisivamente a minha entrada no mundo dos livros e da edição. Creio que vendeu, nesse tempo, mais de 100000 exemplares. Mais tarde, em Frankfurth, tive ocasião de conhecer pessoalmente esse grande poeta filho da Amazónia e jamais esquecerei essa figura imponente, moreno, de mãe índia e com os seus enormes cabelos e uma grande ternura. Que saudades, meu irmão Thiago de Mello!





Thursday, February 08, 2007

 
"Há livros tão ligeiros que parece que dançam;
são os mais difíceis de escrever."
Nietzche

"O púlpito e a tribuna deixam perder o eco
das vozes que os fizeram retumbar; o livro,
mais fiel, é como uma urna maravilhosa
cujas cinzas, têm vida."
Marcel Prévost

In Mais Alcoforado, PAISAGEM DO DIA AUSENTE,
1947, Edições AOV-Porto

 
"Porque é necessário renovar os cultos pagãos
da natureza, ressuscitar as festas rústicas e os
deuses simbólicos, os evoés, as lendas, fazendo
outra vez brotar anões dos rochedos, elfos das
troncagens vetustas e nixes dos tranquilos pegos
das ribeiras. Se eu tivesse uma filha, ensinar-lhe-ia
a ouvir a missa das florestas e a pedir a bênção
às árvores, como a velhos vovós."
Fialho de Almeida

In Joaquim Pulga, ALENTEJANANDO, 2002,
Casa do Sul Editora

Monday, February 05, 2007

 
"Larbaud conservó enteras su lucidez y su memoria,
pero cayó en una confusión total del lenguaje, carente
de organización sintáctica, reducida a substantivos o
a infinitivos aislados, reducido a un mutismo inquietante
que un dia, de pronto, ante la surpresa de los amigos
que habían ido a visitarle, rompió con esta frase:
-Bonsoir les choses d'ici bas.
Buenas tardes a las cosas de aquí abajo? Una frase
intraducible.
Enrique Vila-Matas, Bartleby y Compañia

In António Lobo Antunes, BOA TARDE ÀS COISAS AQUI
EM BAIXO, 2003, Publicações Dom Quixote

Sunday, February 04, 2007

 
"Desagrada-me ficar comovido: porque a
vontade se excita, e a acção
É coisa extremamente perigosa; tremo
com o artificial,
Com qualquer prevericação sentimental e
processo ilegítimo;
Somos tão propensos a coisas destas, com
as nossas terríveis noções do dever."
A.H.Clough

"É esta a era privilegiada para novas invenções
De matar corpos e de salvar almas,
Todas propagadas com as melhores intenções."
Byron

In Graham Greene, O AMERICANO TRANQUILO,
s/d, Unibolso/Editores Associados

Thursday, February 01, 2007

 
"Tudo leva a crer que existe um certo ponto
do espírito de onde a vida e a morte, o real
e o imaginário, o passado e o futuro, o comu-
nicável e o incomunicável, o que está em cima
e o que está em baixo deixam de ser aperce-
bidos contraditòriamente."
André Breton

"Tudo leva a crer que existe um certo ponto
do espírito de onde a vida e a morte, o real
e o imaginário, o passado e o futuro, o comu-
nicável e o incomunicável, o que está em cima
e o que está em baixo deixam de ser e não
deixam de ser apercebidos contraditóriamente."
Pedro Oom

In SURREALISMO/ABJECCIONISMO, Antologia
seleccionada por Mário Cesariny de Vasconcelos,
Editorial Minotauro, 1963

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